Histórico do Vinho

     É na Bíbilia que se menciona pela primeira vez a planta da vida: "Noé plantou uma vinha e tendo bebido seu vinho, se embriagou em sinal de agradecimento". As alusões que são feitas ao vinho são numerosas, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Sem dúvida, a história do vinho se encontra ligada desde a mais remota antigüidade da mitologia oriental. A atribuição dos vinhos a uma divinidade, a importância que se dá a ela nas escrituras bíblicas assim como o prestigio do vinho, presente em tantas cerimônias religiosas e profanas, não poderia deixar de apresentar ao longo da história uma série de ilustrações e documentos a respeito como em antigas adegas assírias, nas pinturas funerárias egípcias, em pedras encontradas em Cartago, Túnez e no Marrocos, se encontram alusões ao vinho.

     Alguns achados, tanto em terra como no fundo do mar, são outros testemunhos que se adicionam as infinitas provas que enchem museus, palácios, templos antigos, catedrais, monastérios e castelos, de tal modo que a Arqueologia já tem arquivada centenas de documentos sobre a história vinícola que vem da mais remota antigüidade. O vinho ocupa um posto de honra na literatura de todos os tempos. Homero já citava, séculos antes de Jesus Cristo, alguns vinhos de renome na antiga Grécia.

     Ele dá detalhes referentes ao armazenamento e a maneira de beber. A lista dos poetas que através dos séculos se inspiraram no vinho é interminável. Graças a certos autores como o poeta Hesíodo, os historiadores Herodoto e Jenofonte e o geógrafo Estrabón, conhecemos exatamente como estiveram divididos los vinhedos na Antigüidade. Na Ásia prosperavam sobre as margens do golfo Pérsico, na Babilônia, na Asiria, sobre as margens dos mares Cáspio, Negro e Egeu, na Síria e na Fenícia. Palestina, pátria da fabulosa descendência de Canaán, possuía uma gama de vinhos de grande reputação que vinham de plantas selecionadas e cultivadas com esmero segundo os métodos que haviam estabelecido a lei hebraica naqueles tempos. A cultura de vinhos, já florescente no Egito, se estendeu até a Europa. Se instalou primeiro na Grécia, nas ilhas de Lemos, Lesbos, Chíos, Samos e Cos, todas elas sob o domínio do Rei Baco. Os vinhos produzidos nestas regiões eram levados por navios a portos mediterrâneos, especialmente a Roma onde alcançavam as vezes preços exorbitantes. Grandes consumidoras de vinhos, estas antigas generações caiam freqüentemente no excesso do consumo.

     Em Roma, o vinho foi objeto de proibição para as mulheres (suposta origem do beijo, segundo algumas documentações da época). Com o tempo, Roma começou a sofrer as conseqüências desta expansão tão grande. A superprodução de vinhos na península e a fama dos vinhos do Império, consumidos em toda região mediterrânea provocaram uma vertiginosa queda de preços. Tal crise levou o Imperador Domiciano a ordenar a queimada das vinhas que produziam vinhos medíocres.

     Apesar de tudo, a cultura do vinho progredia a passos largos. A igreja havia contribuído bastante. O famoso Concilio de Trento anexa esta nobre bebida através da Eucaristia. O bispo, dono da cidade de Trento, se converteu em um grande produtor de vinho. Se tratava, não somente de assegurar a produção do vinho necessário para abastecer a população, mas também abastecer os monarcas e altas autoridades dos países vizinhos. Antes de tudo, e sobretudo, era necessário alimentar o tesouro episcopal. Este tipo de viticultura secular, que floresceu muito durante a Idade Média, duplicou-se a passos largos com a viticultura monástica. As abadias serviam de hospedagens e ficavam localizadas a beira de grandes estradas, para oferecer refugio e conforto ao caminhante. Elas também acolhiam a grandes e poderosos. Os reis, duques e senhores feudais, não tardaram a seguir o exemplo dos religiosos e dos príncipes da Igreja. As vinhas começaram a surgir ao redor de castelos, como acontecia aos monastérios e cidades episcopais. O vinho assim, conservava seu antigo prestigio.

     Com o desenvolvimento da burguesia, numerosos vinhedos no interior das cidades passaram para a sercontroladas por ricos senhores feudais.O comércio de vinhos era bastante abundante nos países do norte, especialmente os Países Baixos, os Flandes e Inglaterra. O consumo de vinho era muito grande nos países do norte. Quando, em 1579, os holandeses alcançaram sua independência, eles concentraram todo seus esforços para fortalecer seu comercio interno. Possuíam uma marinha numerosa e bem organizada, além de muitas fábricas e armazéns. No tempo Luis XIV, os holandeses compravam grandes quantidades de vinho de baixo grau, que era misturado, adulterado e revendido, obtendo-se grandes lucros. Isso era feito diante dos grandes países exportadores que respeitavam a integridade e a pureza dos vinhos produzidos.

     O comercio de vinhos era objeto de uma atenta vigilância por parte das autoridades e corporações.. Os holandeses foram também os que, por razões de caráter puramente especulativo, esquentaram a produção e o consumo massivo de aguardente. Durante o Renascimento, o mapa das grandes vinhas européias era bastante parecido com o cenário atual. Com a colonização e a expansão do cristianismo, cultura dos vinhos chegou aos países da América do Sul, ao México, Califórnia e África do Sul e até mesmo a Argélia. Este último, como em todos os países muçulmanos, teve sua produção freada pelos princípios estabelecidos pelo Alcorão, a Bíblia dos Muçulmanos que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas. Doze séculos depois de Maomé, entretanto, a Argélia já se encontraria a altura dosprincipais países vinícolas do mundo.

     Atualmente os métodos de produção alcançaram um grau de perfeição quase científico. Em tempos de vôos espaciais e engenharia genética, o vinho ainda conserva todo seu prestigio. Intimamente vinculado as origens da nossa civilização, o vinho constitui em um dos méritos mais importantes e pacíficos de toda a história da humanidade. Desde o tempo do Rei Baco, até os dias de hoje, o vinho continua sendo das bebidas, a mais nobre.